(Actualizado a 08/01/2011)
A evolução em torno das tecnologias da informação e comunicação tornou-se numa investigação e desenvolvimento tão intensificada que por vezes temos dificuldade em acompanhar e explorar todas as suas potencialidades. Só de pensar que no meu primeiro acesso à internet a consulta de informação numa simples página era um acontecimento espectacular dando origem a tema de conversa para o resto do dia, nos dias que correm, esta situação torna-se de numa situação “banal”.
Gary Hayes (2006), classifica as gerações da web e sua utilização de uma forma simples focando as alterações em cada geração ou versão por assim dizer. A primeira versão embora apresentasse um grande avanço tecnológico, esta fazia-se de uma forma unidireccional, o utilizador simplesmente consultava conteúdos disponibilizados, não permitindo partilha ou existindo de uma forma bastante restringida, por sua vez, esta lacuna dá origem ao aparecimento da segunda geração onde são apresentadas diversas ferramentas baseadas na partilha como wikis, redes sociais, etc. Embora a partilha se efectuasse de forma bidireccional o factor tempo começou a destacar-se como um factor importante, a denominada comunicação em tempo real. Esta comunicação em tempo real tem sido muito discutida quanto à versão em que foi implementada, contudo, partilho da opinião de Hayes(2006), que considera a colaboração e comunicação em tempo real como a mudança de paradigma classificando-a como uma ferramenta de web 3.0. Assim sendo, para além do aperfeiçoamento da comunicação em tempo real e com a integração dos mundos virtuais entre outras ferramentas, surge então esta última geração, onde a comunicação em tempo real se tornou uma presença constante nas nossas partilhas e trabalhos de forma colaborativa.
De um poto de vista tecnológico o avanço é constante, então porque não tirar partido dessa evolução e potencialidades para partilhar aprendizagens, recursos e conhecimentos sem necessidade de meios físicos como escolas ou outro tipo de instalações? Até este ponto, muitos concordaram, o problema incidiu-se sobre outra questão, de que forma? Os recursos disponibilizados serão através de uma forma paga ou livre?
Todos sabemos que o ensino encontra-se de certa forma ligado a factores económicos e políticos em todos os países, onde efectuar uma aprendizagem de forma gratuita e reconhecida é deveras difícil. Até certo ponto, esta situação faz algum sentido, contudo, a grande procura por aperfeiçoar e conhecer outros métodos ou adquirir outros conhecimentos também se tornou numa grande aventura, e eis que surge então os denominados recursos educacionais abertos (REA).
Os recursos educacionais abertos (REA) ou Open Educational Resources (OER) em inglês, surgem com base na web 2.0, a partilha, e nascem então como materiais de aprendizagem de ensino e pesquisa disponíveis gratuitamente protegidos por licenças que permitem salvaguardar seus autores permitindo a reutilização, alteração e distribuição de conhecimento.
De acordo com a UNESCO (2002) “Open Educational Resources are defined as technology-enabled, open provision of educational resources for consultation, use and adaptation by a community of users for non-commercial purposes. They are typically made freely available over the Web or the Internet. Their principal use is by teachers and educational institutions support course development, but they can also be used directly by students. Open Educational Resources include learning objects such as lecture material, references and readings, simulations, experiments and demonstrations, as well as syllabi, curricula and teachers' guides.” Assim sendo, segundo a definição apresentada serão todos os recursos disponíveis online REA?
Wiley (2011) apresenta três características que para mim mereceram atenção particular, onde foca aspectos importantes quanto à classificação de um REA ideal. Para Wiley (2011), tendo por base um contexto em que um REA ideal será ajudar ou auxiliar cada pessoa a alcançar toda a educação que deseja, apresenta três características:
- Ser sempre, imediato e livremente acessíveis por qualquer pessoa no mundo;
- Conceder ao utilizador as permissões legais necessárias para se envolver num determinado recurso e possível uso do recurso sem qualquer restrição;
- Apoiar eficazmente as metas educacionais do utilizador
Assim sendo, um REA deverá permitir a implementação dos 4Rs:
- Reuse – utilizar o trabalho sem alterações e sem ter de pedir permissão;
- Revise – alterar, adaptar, ajustar ou modificar o trabalho de acordo com as necessidades;
- Remix – misturar diferentes obras e criar algo diferente e novo;
- Redistribute – partilhar obras originais, adaptadas ou remisturadas com novos utilizadores.
Downes (2010), para mim acrescenta ainda mais duas características dos REA classificando-os de especiais que desta forma complementam as referidas por Wiley,
- Os REA deverão sempre que possível revistos de forma a apresentarem uma boa qualidade (quer em termos de design, conteúdo, etc.) e devem incorporar-se de certa forma num projecto educacional. Esta qualidade poderá ser analisada por pares ou instituições de qualidade respeitando determinados parâmetros.
- Um REA deverá ser licenciado adequadamente de forma a respeitar o acesso livre e partilha necessária contemplando a possibilidade de criação de obras derivadas e reutilização comercial. Desta forma é necessário utilizar licenças adequadas como Creative Commons ou Public Domain.
Os recursos educacionais abertos podem ser apresentados ou disponibilizados sob vários formatos, quer através de vídeos, apresentações, cursos completos, revistas, etc. Segundo Weller (2010), classificou os REA em dois grupos, “The Big and little OER”. A diferença entre estes dois grupos resume-se pelas suas especificidades sendo que, um “Big OER” são recursos desenvolvidos/partilhados por instituições, consórcios ou organizações, onde o controlo da qualidade, a explicitação das aprendizagens esperadas, a reputação e seu custo relativamente elevado marcam os seus atributos principais. Ao contrário, os pequenos REA, que são desenvolvidos/partilhados através de blogs, slideshare, youtube, etc, produzidos individualmente, onde não necessariamente por educadores, podem não ter objectivos educacionais explícitos, o seu custo é reduzido, são mais adaptáveis e a sua qualidade é variável.
Quais as potencialidades dos REA?
O surgimento da Web 2.0, aplicou uma mudança na utilização da internet de uma forma unidireccional, ou passiva, para uma utilização bidireccional através das suas ferramentas de construção, adaptação e colaboração, abrindo assim o acesso a um novo mundo de partilha e integração de recursos, permitindo por sua vez associar estas vantagens aos REA.
Mota (2011) refere cinco grandes potencialidades dos REA: a criação de comunidades de aprendizagem livres, a aprendizagem personalizada, a criação de recursos próprios, a aprendizagem ao longo da vida e o aumento da inclusão social.
Muitas são as potencialidades deste tipo de recursos, destacando as que considero mais importantes e refletindo sobre cada uma:
- Criação de comunidades de aprendizagem livres
Os REA permitem desta forma a criação e desenvolvimento de redes de aprendizagem onde o envolvimento dos seus participantes desempenha um papel fundamental na constante melhoria do REA ao utilizá-lo e reportar feedback à rede, ao adaptá-lo e ao participar e aperfeiçoar o recurso de forma a atingir uma determinada qualidade. Através destas comunidades é também possível a economia de esforço no desenvolvimento e custo de um REA devido à partilha de forma colaborativa.
- Aprendizagem personalizada
Através dos REA, os aprendizes poderão efectuar uma aprendizagem à sua medida, deixando de estarem limitados a um determinado horário ou calendário, permitido assim uma maior flexibilidade tendo em conta a sua disponibilidade, por outro lado, permite a aprendizagem através de uma maior variedade de recursos enquadrados num determinado contexto educativo.
- Criação de recursos próprios
Os recursos criados individualmente sobre um determinado projecto educativo com licenças que respeitem os princípios dos REA, podem desta forma ser disponibilizados e partilhados para uma comunidade permitindo assim, a sua adaptação, utilização ou distribuição enriquecendo desta forma uma determinada área de aprendizagem com a introdução de mais um recurso.
- Aprendizagem ao longo da vida
Os REA são verdadeiros suportes para uma aprendizagem activa e constante ao longo da vida. Possibilitam a quem quer aprender encontrar e utilizar este tipo de recursos de acordo com as necessidades e potencialidades de forma a desenvolver e aperfeiçoar as suas competências.
- Aumento da inclusão social
A utilização deste tipo de recursos de forma livre e gratuita utilizando a internet, possibilita a eliminação de restrições geográficas, culturais, sociais, entre outras, possibilitando também aquele que aprende, a integração numa comunidade, podendo-se tornar também como um criador de REA.
Quais os maiores desafios dos REA?
Mota (2011) refere seis grandes desafios dos REA: a sustentabilidade, a resistência à partilha, a qualidade, a reputação, a interoperabilidade e adequação.
Quando pensamos em utilizar este tipo de recursos, encaramos esta ação como uma grande vantagem, contudo, esquecemo-nos por vezes que existem grandes desafios ao redor dos mesmos, tais como:
- Sustentabilidade
Wiley (2006b) refere que, a sustentabilidade dos REA deve ser considerada em duas partes: a produção e a partilha sustentável dos recursos. A sustentabilidade de qualquer REA é influenciada pela duração do desenvolvimento (pequena ou grande), o tipo de provedor (instituição ou comunidade) e os nível de integração dos utilizadores no processo de produção (co-produção ou produtor-consumidor). No meu ponto de vista, este desafio penso que será difícil de superar uma vez que embora a sociedade aprecie e recomende a utilização de recursos livres e gratuitos, poucos são os utilizadores que optam por efectuar algum tipo de doações aos criadores deste tipo de recursos que despendem de tempo e recursos para a criação do recurso disponibilizado. Por outro lado, hoje em dia, também verificamos que no ensino superior o desenvolvimento de REA é cada vez mais comum, contudo, a forma do seu financiamento dependerá dos objectivos de cada projecto podendo correr o risco de tornar-se em mais um serviço público prestado pela instituição.
- Resistência à partilha, adequação e reputação
É frequente enquanto navegamos na internet encontrarmos vários recursos disponíveis de grande utilidade e que poderiamos partilhar essas simples descobertas com outras pessoas ou comunidades, contudo, muitas pessoas hoje em dia não partilham com medo da crítica por parte dos outros, ou então, por outro lado, existe ainda nos tempos que correm a ideia de que usar conteúdos feitos por outra pessoa pode ser sinal de fraqueza ou incapacidade, é a ideia com que muitas pessoas encaram este tipo de acção. A meu ver, este desafio quanto à partilha prende-se por alterar mentalidades das pessoas, contudo, penso que num curto espaço de tempo este desafio será ultrapassado. Ainda quanto à partilha, muitas das vezes, as partilhas efectuadas não são efectuadas devidamente, sendo em muitos casos, verificadas várias falhas ou mesmo ausências quer nas referências dos recursos partilhados quer dos seus autores, penso que uma forma e talvez um novo desafio neste campo será passar a divulgar melhor de qual a forma correcta quando efectuamos uma partilha de recursos.
- Qualidade e Certificação
Quando nos referimos à qualidade de um REA esta pode ser entendida de várias formas segundo o utilizador ou criador, de facto, não existe uma regra que defina quais os parâmetros de qualidade para um determinado recurso a seguir. Embora certos autores defendam que a qualidade é parametrizada de acordo com o projecto educativo, seu contexto e design apelativo e de fácil entendimento, no meu ponto de vista poderemos dizer que este tipo de recursos ganha cada vez mais qualidade quanto mais for partilhado, adaptado e distribuido.
Em relação à certificação de pessoas que utilizam este tipo de recursos para adquirirem os seus conhecimentos e competências, nos últimos anos, temos assistido a um esforço institucional no reconhecimento de competências adquiridos em contextos não formais de aprendizagem recorrendo-se assim, muitas das vezes a uma avaliação de experiências individuais e profissionais. Este desafio quanto a mim ainda revela ser um grande obstáculo ultrapassar.
Considerações finais
Existem algumas notas importantes que devemos ter atenção quando efectuamos pesquisas de recursos, nomeadamente quanto à classificação dos REA. Assim sendo, nem todos os recursos disponíveis livremente através na internet são considerados REA, sendo que para esse efeito deverão estar devidamente identificados pelas suas licenças.
Os REA são realmente grandes recursos para a ampliação de conhecimentos quer de uma forma individual que de uma forma colaborativa recorrendo a ambientes de aprendizagem. Nos últimos anos tenho recorrido muitas vezes a este tipo de recursos quer para adaptação quer para utilização e partilha consoante as necessidades que vão surgindo.
Em forma de conclusão, penso que acima de tudo, ao recorermos a um REA devemos para além de saber como funciona ou como utilizar este tipo de recursos, cabe-nos também a nós participar neste tipo de desenvolvimento de aprendizagens uma vez que entendo que os REA têm grandes potenciais tal como alguns referidos nesta reflexão assim como tentar ajudar a ultrapassar alguns dos desafios que os mesmos enfrentam hoje em dia.
Referência Bibliográficas
Gary Hayes (2006), Virtual Worlds, Web 3.0 and Portable Profiles
Acedido a 26-12-2011, disponível em: https://www.personalizemedia.com/virtual-worlds-web-30-and-portable-profiles/
UNESCO (2002), promotes new initiative for free educational resources on the Internet. Em Unesco Education News.
Acedido a 28-12-2011, disponível em https://www.unesco.org/education/news_en/080702_free_edu_ress.shtml
Downes, Stephen (2010). Agents Provocateurs. Stephen's Web.
Acedido a 28-12-2011, disponível em https://www.downes.ca/post/54026
Wiley, David (2011). On OER – Beyond Definitions. Iterating toward openness.
Acedido a 27-12-2011, disponível em https://opencontent.org/blog/archives/2015
Wiley, David. Defining the "Open" in Open Content
Acedido a 29-12-2011, disponível em: https://opencontent.org/definition/
Wiley, D. (2006b) On the Sustainability of Open Educational Resource Initiatives in Higher
Education, Acedido a 29-12-2011, disponível em: www.oecd.org/edu/oer
Mota, J. (2011). Recursos Educacionais Abertos: Potencialidades e Desafios.
Acedido em 26-12-2011, disponível em: https://www.slideshare.net/josemota/recursos-educacionais-abertos-potencialidades-e-desafios